Fruto do desafio que o Colega
Doutor Enfermeiro me lançou e também dos comentários lançados anteriormente neste blog vou denunciar e escrever algumas coisas acerca da formação de enfermagem, a que tive acesso durante a minha permanência no fenómeno Associativo Estudantil em enfermagem.
A qualidade na formação da saúde além de ser uma responsabilidade de qualquer instituição de ensino é também essencial para que os futuros profissionais de saúde adquiram competências que lhe permitam prestar cuidados de qualidade à população.
O Ensino de Enfermagem prima de acordo com a legislação por duas componentes de grande importância formativa. Uma componente teórica que visa garantir os conhecimentos teóricos e conceptuais e uma componente prática que garante o ensino e aplicação prática dos conhecimentos teóricos fornecidos na prática clínica.
Se a componente teórica depende em grande parte dos docentes, do material de suporte, e do investimento dos estudantes, já a componente prática depende em grande parte das experiências que os alunos passam ao longo do ensino clínico.
A leccionação de aulas poderá ocorrer em espaço precários e isso terá obviamente consequências para a qualidade de aprendizagem. Já quando se fala do contexto clínico a falta de condições tem outra consequência, ainda mais severa, a aprendizagem não acontece.
Há alguns anos atrás, através de vários estudos constatou-se que existiam carências de enfermeiros e consequentemente de cuidados de enfermagem nos serviços. Decidiu-se então aumentar o número de vagas. O ensino de enfermagem até então era visto como tendo grande qualidade de formação, fruto da vastidão de experiências que os alunos tinham no decorrer do ensino clínico.
Aumentaram-se as vagas nas escolas. A primeira dúvida que me suscita é se terá havido também um aumento de material escolar de suporte para o acrescimento de alunos. A resposta é que nalguns casos isso não aconteceu. Logo aí, começa a surgir um risco formativo.
Criaram-se escolas novas, todas privadas, que foram atrás do lucro que o ensino de enfermagem lhes poderia dar. Vagas imensas, determinadas a belo prazer pelo Ministério do Ensino Superior e sem uma articulação concreta com o Ministério da Saúde que permitisse que o aumento de vagas, fosse sustentado com locais de ensino clínico de qualidade e que permitam aos alunos terem experiências.
Essa desarticulação tem consequências. Neste momento, as escolas travam uma guerra para obter locais de ensino clínico, não se preocupando por vezes com qualidade, mais com ter lugares suficientes para os seus estudantes. Acontece que aquelas que não conseguem pagar às instituições hospitalares ou que planeiam tardiamente os seus ensinos clínicos e quando o fazem já estão completamente cheios, encaminham os seus alunos para locais onde não existem enfermeiros a trabalhar, ou então existem em número reduzido, e onde os cuidados prestados não são condizentes com as competências a adquirir por um enfermeiro de nível 1 e que como tal, provam existir lacunas na formação.
Tal como o colega Doutor Enfermeiro tenho conhecimento de escolas que por falta de locais de prática clínica, metem os seus alunos em ensinos clínicos em laboratórios escolares simulando hospitais, mandam alunos para creches e lares de 3ª idade, não potenciando a aprendizagem nestes locais, pois por falta de docentes, não acompanham os alunos presencialmente e não fornecem aos alunos a potenciação das experiências. Há ainda locais que fruto da evolução técnica as oportunidades técnicas são diminutas para o número de alunos presentes. Cada vez mais, surgem alunos no 4º ano sem terem realizado procedimentos considerados como essenciais. Sei, que estes procedimentos não são os únicos responsáveis por cuidados de qualidade, aliás, a bagagem de conhecimentos teóricos e conceptuais dos estudantes de algumas escolas permite-lhes disfarçar algumas dessas lacunas, contudo está em causa a qualidade.
Parece-me que em enfermagem a quantidade, fez notoriamente baixar a qualidade e isso reflecte-se nos cuidados prestados, as escolas necessitam de rapidamente repensar os seus processos formativos, e as autoridades de avaliação têm de efectivamente tomar estes aspectos em conta e forçar a diminuição do número de vagas, para que se volte a formar em qualidade.
Estamos perante um caso em que quantidade não é sinónimo de qualidade.
Denunciarei qualquer situação que saiba de formação sem qualidade, apelo a todos os colegas que o façam também e também aos alunos dessas escolas e ex-alunos que denunciem esses atentados formativos, pois está em causa a saúde da população.